quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Implicações monstro da Rota Marítima do Norte da Rússia, por F. William Engdahl

22/11/2017, F. William Engdahl, New Eastern Outlook, NEO


Eis como é que se fazem as coisas, quando o país é governado por cidadãos de bem, não por dinastias familiares de ladrões profissionais e pervertidos de todos os tipos, organizados em quintais de votos e acobertados por empresas de 'mídia' cuja sobrevivência depende de a bandidagem perdurar no poder com STF-com-tudo.


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


No que tenha a ver com sobreviver nas condições mais duras de clima do planeta nenhum país sequer se aproxima das competências dos russos. Agora, a Rússia definiu, como prioridade, desenvolver uma Rota Marítima do Norte, ao longo da costa russa do Ártico, como via para transporte de Gás Natural Liquefeito, GNL, e de contêineres embarcados, entre Ásia e Europa. A nova rota cortará pela metade o tempo de viagem e evitará o cada dia mais perigoso Canal de Suez. A China está integralmente engajada e já incorporou formalmente a nova rota na infraestrutura da nova Iniciativa Cinturão e Estrada, ICE.


Antes de desembarcar na cúpula do G20 em Hamburg em julho, o presidente da China Xi Jinping fez escala em Moscou, onde ele e o presidente Vladimir Putin da Rússia assinaram a "Declaração Conjunta China-Rússia de Reforço para Parceira Abrangente, Estratégica e de Cooperação" [ing.China-Rússia Joint Declaration on Further Strengthening Comprehensive, Strategic and Cooperative Partnership]. A declaração inclui a Rota Marítima do Norte como área estratégica de cooperação entre China e Rússia, como parte formal da infraestrutura da Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE). A Rússia, por sua vez, está investindo muitos recursos no desenvolvimento de novos portos e infraestrutura para embarque de GNL ao longo daquela rota, para atender ao crescente tráfego marítimo por suas águas territoriais no Ártico.

A Federação Russa, sob direta supervisão do presidente Putin, está construindo a infraestrutura econômica que criará uma alternativa do Canal de Suez para transporte marítimo de contêineres e de GNL entre Europa e Ásia. Além disso, os desenvolvimentos abrem enormes novos recursos ainda não desenvolvidos, incluindo petróleo, gás, diamantes e outros minérios na Zona Econômica Exclusiva, ZEE, da Rússia [ing. Russia’s Exclusive Economic Zone (EEZ)], que cruza o litoral no extremo-norte da Sibéria.

Oficialmente a legislação russa define a Rota Marítima do Norte como águas territoriais ao longo da costa Ártica Russa a leste de Novaya Zemlya naOblast [província] Arkhangelsk da Rússia, do Mar de Kara na Sibéria, até o Estreito de Bering entre o extremo oriente da Rússia e o Alasca. Toda a rota está em águas do Ártico e dentro da Zona Econômica Exclusiva da Rússia.

Estudos geofísicos preliminares confirmam que há vastas reservas de petróleo e gás no fundo do mar ao longo da Rota Marítima do Norte em águas da ZEE russa, o que faz aumentar o interesse do governo chinês em se unir à Rússia para o desenvolvimento de recursos, além da redução potencial do tempo de transporte de/para a Europa. Para a China, que vê crescentes ameaças às suas linhas de suprimento de petróleo por mar, do Golfo Persa e pelo estreito de Malacca, a Rota Marítima do Norte russa oferece alternativa muito mais segura, um Plano B, no caso de a Marinha dos EUA interditar o estreito de Mallaca.

Para o US Geological SurveyUSGS [Serviço Geológico dos EUA], cerca de 30% de todo o petróleo acessível do Ártico e 66% do total do gás natural estão na ZEE do Ártico russo; e o total das reservas acessíveis de petróleo recuperável do Ártico é estimado em cerca de 1/3 do total das reservas sauditas. Como Mark Twain poderia ter dito "há ouro negro [naquelas] águas geladas [lá deles]… "

A Convenção da ONU para a Lei dos Mares [ing. United Nations Convention on Law of the Seas (UNCLOS)], da qual Rússia e China são signatárias, mas os EUA não, define como zona econômica exclusiva uma área "além e adjacente" de águas territoriais de um estado, e assegura àquele estado "direitos soberanos [para] a gestão dos direitos naturais" dentro da respectiva zona. A China não contesta os direitos da ZEE da Rússia, e, além disso, busca cooperar em seu desenvolvimento agora formalmente dentro do projeto Iniciativa Cinturão e Estrada.

Novas rotas marítimas comerciais

O outro interesse na Rota Marítima do Norte da Rússia é comércio marítimo economicamente mais consequente e mais rápido. Em agosto desse ano, em viagem teste do navio-tanque russo para GNL "Christophe de Margerie", entregou gás natural líquido norueguês de Hammerfest na Noruega, em Boryeong na Coreia do Sul em apenas 19 dias, quase 30% mais depressa que pela rota tradicional do Canal de Suez, apesar de o navio ter tido de atravessar campos de gelo de 1,2m de espessura. A parte da rota pelo Mar Ártico foi cumprida no tempo recorde de seis dias e meio. O Christophe de Margerie é o primeiro navio-tanque para transporte de GNL e quebra-gelo em todo o mundo, construído especificamente para a estatal russaSovcomflot para transportar GNL a partir do Projeto Yamal de Gás Natural Liquefeito no Ártico Russo, por um estaleiro sul-coreano.

A Rússia está também cooperando com a Coreia do Sul, no desenvolvimento de capacidades embarcadas de sua Rota Marítima do Norte. Dia 6 de novembro, o ministro de Desenvolvimento do Extremo Oriente da Rússia, Aleksandr Galushka, reuniu-se com o ministro de Oceanos e Pesca da Coreia do Sul, Kim Yong-suk. Os dois países assinaram acordos para promover pesquisa conjunta para uma linha de transporte de contêineres ao longo da Rota Marítima do Norte. O desenvolvimento conjunto incluirá a construção de nodos de embarque em cada extremo da Rota Marítima do Norte – Murmansk no oeste, e Petropavlovsk-Kamchatsky no leste. Murmansk, à entrada das regiões árticas de Finlândia e Noruega, tem acesso sem gelo para o Mar de Barents ao longo de todo o ano.

A fábrica Hyundai da Marinha Mercante da Coreia tem planos para testar viagens de contêineres embarcados ao longo da Rota Marítima em 2020, com navios para contêineres capazes de carregar 2.500-3.500 TEU (ing. Twenty-foot Equivalent Unit [lit. Unidade Equivalente a 21 pés], unidade de volume de contêineres) naquela rota. Em julho de 2016, aconteceu um embarque histórico de dois grandes componentes industriais da Coreia do Norte para o novo porto ártico da Rússia em Sabetta, e de lá, pelos rios Ob e Irtysh, para a cidade de Tobolsk no sul dos Urais.

Investimentos em novos portos árticos 

A própria Murmansk é local de um dos maiores projetos de infraestrutura da Rússia. Está em curso extenso trabalho de construção para completar o chamado Nodo Murmansk de Transporte, que inclui novas estradas, ferrovias, portos e outras instalações a oeste da Baía Kola. Murmansk é realmente nodo chave para recarga de carvão, petróleo, peixe, metais e outras cargas partidas da parte europeia da Rússia. Servirá como principal porta de entrada ocidental para a Rota Marítima da Rússia para a Ásia.

A Federação Russa também está completando um novo porto em Sabetta na Península Yamal. A Península Yamal, à beira do Mar Kara ártico, é onde estão as maiores reservas de gás natural da Rússia, estimadas em 55 trilhões de metros cúbicos (tmc). Para comparar, as reservas de gás do Qatar são estimadas em 25 tmc; as do Irã, em 34 tmc. O principal desenvolvedor do Porto Sabetta em Yamal é Novatek, maior produtor independente de gás da Rússia, e o governo russo.

No Porto Sabetta está instalado o grande novo Terminal Yamal de GNL que, antes do final de 2017 começará a transportar gás de Yamal pela Rota Marítima do Norte para a China. Quando estiver operando com plena capacidade, o Porto Sabetta manejará 30 milhões de toneladas de bens por ano, o que fará de Sabetta o maior porto do mundo acima do Círculo Ártico, superando o porto de Murmansk. A empresa Novatek já pré-vendeu todo o volume de sua produção de gás do Terminal Yamal de GNL por contratos de 15 e 20 anos, principalmente a compradores da China e compradores asiáticos.

GNL Yamal absolutamente não é a única área em que a russa Novatek está cooperando com a China. Dia 4 de novembro, Novatek anunciou que assinou novos acordos com parceiros da Yamal, a China National Petroleum Corporation e o Banco de Desenvolvimento da China para o projeto Ártico GNL 2, potencialmente maior que o projeto GNL Yamal. A construção do projeto Ártico GNL 2 da Novatekon na Península Gydan, separada de Yamal pelo Golfo de Ob, está prevista para começar em 2019.

O Terminal Yamal GNL é projeto de $27 bilhões de dólares cuja principal proprietária é a Novatek da Rússia. Com a guerra financeira que o Tesouro dos EUA fez contra a Novatek e o projeto Yamal em 2014, depois do referendo da Crimeia que decidiu pela reintegração à Federação Russa, os investidores chineses apressaram-se a oferecer os $12 bilhões necessários para completar o projeto, depois que a estatal chinesa CNPC comprou 20% das ações do projeto do terminal Yamal GNL. O Fundo da Rota da Seda da China possui outros 9.9% e a francesa Total 20% – e a Novatek conserva 50,1%.

Quebrando o gelo, à moda russa

Abrir as potencialidades da Rota Marítima do Norte russa ao pleno fluxo de tráfego comercial de GNL e de fretes de contêineres, do ocidente ao longo do litoral ártico da Sibéria até a Coreia do Sul e a China e o restante da Ásia exige soluções tecnológicas absolutamente extraordinárias, sobretudo no campo da construção de quebra-gelos e de infraestrutura de portos ao longo da rota ártica, congelada em profundidade. Também nesse campo, a Rússia é líder mundial. E prepara-se para expandir significativamente essa sua liderança.

No início de 2016, a Rússia encomendou uma nova classe de quebra-gelos movidos a energia nuclear – classe Arktika –, operados pela Atomflot, braço de estaleiros da gigante estatal de energia nuclear Rosatom, maior empresa mundial de construção de energia nuclear e segunda em termos de depósitos de urânio, que produz 40% de todo o urânio enriquecido do mundo.

O novo quebra-gelo Arktika é hoje o mais poderoso quebra-gelo de sua classe, e quando estiver pronto para operar, em 2019, terá capacidade para quebrar 3m de gelo. Um segundo quebra-gelo nuclear da classe Arktika deve entrar em operação em 2020. No momento, a Rússia tem em construção 14 quebra-gelos movidos a diesel e nucleares, além do Christophe de Margerie recém inaugurado. Todos esses 14 novos quebra-gelos estão sendo construídos em estaleiros na área de São Petersburgo.

Rosatom assumirá a liderança mundial

Atualmente o governo russo está a um passo de escalar dramaticamente no desenvolvimento de tecnologias para quebra-gelos, com o visível objetivo de desenvolver a navegação e exploração de recursos ao longo da passagem da Rota Marítima do Nordeste como uma prioridade econômica nacional.

Em 2016, o presidente Putin tomou como sua prioridade pessoal supervisionar a construção de um estaleiro ultramoderno, estado-da-arte nesse tipo de engenharia, em Primorsky Krai, no Extremo Oriente da Rússia, para promover melhor equilíbrio em relação às docas ocidentais na região de São Petersburgo e construir uma região econômica da Rússia em torno de Vladivostok, conforme a economia da Rússia – que assim reage à imprevisível Washington e suas 'sanções' – vai ganhando cada vez maior autossuficiência em áreas vitais.

A construção de navios no Extremo Oriente da Rússia está centrada na completa reconstrução (projeto de $4 bilhões) do velho estaleiro Zvezda na Baía Bolshoy Kamen que pertence à estatal russa Corporação dos Estaleiros Unidos. Em Primorsky Krai está também ancorada a Frota da Marinha Russa do Pacífico. Quando o novo estaleiro gigante Zvezda estiver pronto em 2020, será o maior e mais moderno estaleiro civil da Rússia, dedicado à construção de navios de alta tonelagem, inclusive navios-tanque para transporte de GNL, quebra-gelos para o Ártico e elementos para plataformas marítimas de petróleo e de gás.

Dia 18 de novembro, o jornal diário russo de negócios Kommersant anunciou que o presidente Putin da Rússia quer entregar o desenvolvimento de infraestrutura para a Rota Marítima do Norte à estatal nuclear Rosatom. Segundo aquele jornal, Putin aprovou a ideia, que lhe foi apresentada pelo primeiro-ministro Dmitry Medvedev, de pôr sob gestão da estatal Rosatom todos os serviços estatais para atividades náuticas, desenvolvimento de infraestrutura e das propriedades estatais a serem usadas ao longo do corredor. Dentre outras implicações, a decisão de tornar a Rosatom única responsável pelo desenvolvimento da Rota Marítima do Norte sugere que os quebra-gelos nucleares devem ter papel bem maior no desenvolvimento na Rota Marítima do Norte.

Segundo a matéria de Kommersant, que ainda não foi formalmente confirmada, o novo papel da Rosatom foi proposto pelo presidente da própria estatal Alexei Likhachev e pelo vice-primeiro ministro Dmitry Rogozin. Rogozin, atingido por sanções de Washington, é vice-primeiro-ministro encarregado da Indústria da Defesa da Rússia desde 2011. Se a nova proposta for convertida em lei, a divisão ártica da estatal Rosatom supervisionará toda a construção de infraestrutura e energia ao longo dos 6.000 quilômetros da Rota Marítima do Norte.

Segundo a fonte, significará que a Rosatom passa a supervisionar tudo, da construção de portos à construção de infraestrutura de comunicação e navegação, além de coordenar a pesquisa científica. Sob esse plano uma nova Divisão Ártica da Rosatom passará a centralizar portos antes controlados pelo Ministério dos Transportes e também os quebra-gelos não nucleares operados por Rosmorport e a frota de quebra-gelos nucleares russos. A Administração da Rota Marítima do Norte [ing. Nothern Sea Route Administration], a instituição estatal responsável pela segurança da navegação, também se tornará parte da "Divisão Ártica" da Rosatom. Será movimento para resolver a dificuldade da atual fragmentação da responsabilidade por diferentes aspectos do desenvolvimento do transporte da Rota Marítima do Norte da Rússia – uma das mais altas prioridades de Moscou e bloco de construção crucial no desenvolvimento da colaboração China-Rússia na Iniciativa Cinturão e Estrada.

Tudo isso considerado, o que resta perfeitamente claro é que a Rússia está desenvolvendo tecnologia de ponta e infraestrutura para operação em condições extremas de clima, construindo uma nova economia, e está sendo muito bem sucedida nessa colaboração com China, Coreia do Sul e também, em certa medida, com o Japão, ao contrário das esperanças dos neoconservadores de Washington e de seus patrões no complexo militar industrial dos EUA.*****

4 comentários:

Anônimo disse...

A estas horas os ANGLO_SIONISTAS estão tirando as calças pela cabeça, ou seja , o Mundo de negócios passando a sua volta , e os mesmos continuam falando em GUERRAS. Engraçado que os ANGLO_SIONISTAS andam para trás igual ao ____braZiUSA___ . O que será que o ___braZiUSA___ têm igual aos ANGLO_SIONISTAS. GOVERNO Neo-liberal.

Anônimo disse...

O Mundo acontece do lado de lá. China e Rússia trilhanos juntas o caminho para um futuro melhor para a humanidade.

Anônimo disse...

Excelente

Jonas disse...

Que alegria dá ver a Rússia e China desenvolvendo novas capacidades e alternativas ao ja nefasto e desgastado mundo de hipocrisia ocidental.