terça-feira, 12 de setembro de 2017

Furacões, inundações e capitalismo

8/9/2017, Tony Murphy, Workers.org












Em O Capital, Karl Marx descreveu o capitalismo como sistema construído inteiramente em torno da exploração do trabalho – mas o verdadeiro caráter do capitalismo permanece sempre oculto.


Diferente de outros sistemas sociais anteriores como a escravatura e a servidão, onde o uso e abuso de escravos e servos para produzir riqueza eram claros para todos, a exploração capitalista é ocultada sob uma montanha de ideias, segundo as quais trabalhadores e patrões são agentes iguais e independentes, e parte de um sistema democrático que assegura e protege completa liberdade para todos.

Para que o capitalismo sobreviva como sistema de exploração, é indispensável esconder constantemente o verdadeiro caráter de todo o fenômeno. Não importa o que esteja em jogo, o que seja importante, o que se disputa numa determinada luta – a interpretação que a classe dominante governante dá aos eventos tem o efeito de obscurecer a realidade.

Há hoje luta muito visível pela verdade na questão de se haveria serviço preventivo contra o Furacão Harvey, ou se foi evento realmente sem precedentes. Nessa luta, os lados opostos são, por um lado cientistas e ativistas ambientais que tentaram alertar o público sobre o aquecimento global e como o crescimento urbano de Houston pôs fim aos processos de absorção das águas da inundação, pelo solo. Por outro lado, vêm os negadores da mudança climática e políticos que deliberadamente ignoraram os alertas dos cientistas, por interesses imediatos, ignorância, planejamento errado ou ganância.

Esse debate é crucialmente decisivo. A mudança climática está afetando milhões. A experiência da Costa do Golfo aparece multiplicada por dez na Índia, no Nepal e em Bangladesh, cujas populações sofrem hoje massivamente – 1.200 mortos e dezenas de milhares de desabrigados –, vítimas de mais um período de monções de violência inaudita por causa da mudança climática.

Mas mesmo essa luta em torno de como acontecem os desastres, com pontos muito claros e bem expostos pela comunidade científica que estuda a mudança climática ("enchentes recordes em 500 anos" aconteceram três vezes nos últimos três anos), encobre a verdadeira natureza do que está acontecendo em Houston, na Costa do Golfo e no Sul da Ásia: um brutal 'racha' na sociedade causado por um sistema social global que prioriza o direito de explorar seres humanos, acima das necessidades humanas.

Reação capitalista nos EUA vs. a preparação socialista em Cuba 

A emissão de gases de efeito estufa – provocada pelo capitalismo – é quase completamente deixada fora da discussão. Também se ignora o crime pelo qual, diferente do 1% mais rico, a vasta maioria da sociedade fica entregue aos seus próprios e poucos recursos em todas as crises climáticas extremas causadas pelo sistema.

Isso se torna claramente visível se se comparam os preparativos massivos, amplos e abrangentes feitos pelo governo socialista cubano por seu próprio povo e para seu próprio povo, sempre que o país esteja na rota de furacões ("Cuba transporta golfinhos por avião, para áreas seguras", Fox News). Fácil compreender que o número de vítimas é muitíssimo menor que em países capitalistas.

Esse é um fato já universalmente admitido por agências de resgate e socorro humanitário como Cruz Vermelha, Crescente Vermelho, ONU, Oxfam, etc. A possibilidade de uma pessoa ser morta por furacão nos EUA é 15 vezes maior que em Cuba – como admitiu em 2013 o Centro de Política Internacional. Mas nem o CPI atribui ao sistema social cubano esses impressionantes resultados.

A primeira coisa que distingue Cuba e os partidos capitalistas é que a resposta aos furacões é construída desde muito antes de o furacão agredir o país. Todos os setores da sociedade estão envolvidos, e há treinamento anual que começa nas escolas, para crianças bem pequenas.

Com exercícios anuais de treinamento, estoques de itens de sobrevivência para emergências, alertas pelas mídias 24 horas por dia e preparativos para evacuação que começam 48 horas antes de o furacão tocar o solo, o modo predominante pelo qual Cuba lida com os furacões é preventivo. Nos regimes capitalistas o modo dominante de responder aos furacões é reativo.

Outro traço importante do modo como Cuba enfrenta as calamidades é chamado "mapa de riscos comunitários". Estudo de 2004 feito por Oxfam mostrava como trabalham os líderes comunitários para produzir esses mapas. Membro da Federação Cubana de Mulheres explicava: "Se vem algum furacão, eu já sei que dentro de uma dada unidade multifamiliar há uma idosa em cadeira de rodas que precisará de ajuda para sair. Tenho 11 mães solteiras em 2ºs, 3ºs andares de prédios de apartamentos, com criança com menos de dois anos que precisam de apoio para a evacuação e, depois, precisarão de atendimento especial nos abrigos. Tenho duas grávidas, uma aqui e outra lá, que precisarão de atenção especial."

Há quem diga que a frequência dos furacões obrigou Cuba a ter estrutura modelar para defesa contra furacões — não o sistema social.

Mas a abordagem que Cuba construiu para outras questões de saúde e bem estar públicos também é de qualidade superior. O caso do Zika vírus, por exemplo, é fenômeno que devastou populações no Haiti, Porto Rico, Brasil, Colômbia e outros países, e também no sul da Florida.

Claro, a resposta de Cuba ao Zika foi ajudada por anos de combate nacional contra o mosquito vetor das doenças dengue e chikungunya. Mas isso não explica por que a taxa de infecção e morte por infecção pelo Zika foi tão mais baixa em Cuba que nos países capitalistas do entorno – e também, como o sistema para furacões, universalmente elogiadas universalmente por especialistas em saúde.

Carlos Espinal Tejeda, especialista em doenças tropicais da Universidade de Miami, disse à STAT, publicação sobre saúde: "Em Miami e noutros locais na América Latina, esperaram até que os casos surgissem e só então se mobilizaram (...) Cuba faz o oposto. Quando viram  que o vírus fatalmente chegaria, já se mobilizaram."

E, sim, Cuba fez tudo isso sob as duríssimas condições do bloqueio imposto pelos EUA, que impediam que médicos e planejadores comprassem no mercado mundial os suprimentos e itens necessários facilmente acessíveis aos países capitalistas.

Dia 1/9, o HuffPost publicou artigo intitulado "Houston, We Have a Problem." Referia-se às condições extremas de clima tanto na Costa do Golfo nos EUA como no Sul da Ásia, e lançava clara convocação para que toda a humanidade passasse a lidar com o problema da mudança climática.

"Se continuarmos a viver como sempre vivemos, explorando e usando petróleo e gás em níveis recordes, apesar dos avisos dos cientistas" – escreve o autor. "Não podemos vivem num paraíso de tolos, pensando que poderíamos manter o curso atual e tudo acabará bem."

É verdade. Mas um sistema social como o capitalismo foca-se sempre em fazer dinheiro já. Não tem capacidade, meios nem motivação para pensar à frente e prevenir as piores consequências dos problemas – exceto no caso em que os problemas afetem a capacidade de a burguesia acumular lucros.

Bill King, político texano, publicou dia 28/8, no New York Times intitulado "Prefeito de Houston acertou em não ordenar evacuação". E diz: "É logisticamente impossível evacuar milhões de pessoas de áreas baixas, antes de um grande furacão."

Compare-se com a seguinte notícia: "Em setembro de 2004, Cuba sofreu o furacão Ivan, o 5º maior que jamais atingiu o Caribe, com ventos constantes de 200km/h. Cuba evacuou quase 2 milhões de pessoas – mais de 15% da população total. 100 mil pessoas foram evacuadas nas primeiras três horas. Inacreditáveis 78% dos evacuados foram abrigados em casas de família previamente cadastradas. Crianças foram retiradas de creches. Animais e pássaros foram retirados. Não houve nenhuma morte." (Fred Goldstein, Workers World, 13/1/2005, "Mortes não são só evento natural – Organização e planejamento socialistas salvam vidas." O artigo é acessível online em workers.org, e oferece explicação detalhada sobre como Cuba está organizada em todos os níveis para lidar com seus problemas.)

O possível e verdadeiro depende de um sistema social

Sim, Houston, temos um problema. O problema é o capitalismo. O capitalismo é hostil às necessidades do povo. Por isso o capitalismo não cuida e jamais cuidará de preservar a capacidade, para nós, de nos mantermos, e aos nossos, vivos e saudáveis.

Tudo que causou tanto sofrimento na Costa do Golfo também causa demissões, desemprego, racismo, pobreza e guerra. Temos de derrubar o capitalismo e pôr, em lugar dele, o socialismo.*****

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com Tony. Eu sempre vi o capitalismo como uma forma de supressão na sociedade. Gera diversas desgraças. Excelente artigo.

Packers And Movers Mumbai disse...

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