terça-feira, 13 de junho de 2017

Rússia adverte EUA contra ataques às forças sírias, por MK Bhadrakumar

12/6/2017, MK Bhadrakumar, Indian Punchline













Diplomatas dissimulam, jornalistas exageram, políticos falam demais, mas não há razão imaginável para que um general de exército ponha-se a mascarar uma flagrante realidade em campo. Também por isso as observações excepcionalmente raras do comandante das forças russas na Síria, general Sergey Surovikin, merecem toda a atenção. Adiante reproduzo alguns excertos:


  • A coalizão liderada pelos EUA não mata terroristas; em vez disso, permite que militantes do grupo terrorista Estado Islâmico deixem Raqqa (...). A coalizão liderada pelos EUA entra em colusão com chefetes do ISIS, que abandonam os acampamentos sem luta e partem para as províncias onde forças do governo sírio estão ativas (...) A força russa na Síria vê na área de Raqqa militantes que deixam sem qualquer dificuldade a cidade e seus subúrbios. No início de junho, terroristas do ISIS deixaram sem qualquer resistência as áreas habitadas a 19 km ao sudoeste de Raqqa e mudaram-se para Palmyra.

  • Os norte-americanos estão usando o ISIS para criar robusto obstáculo ao movimento de tropas do governo (...) A aviação da coalizão liderada pelos EUA está impedindo que forças do governo sírio deem combate aos terroristas (...) Bloquearam o caminho de forças do governo sírio que estão eliminando militantes do ISIS e construindo postos de controle de fronteira ao longo da fronteira com o Iraque a nordeste de Al-Tanf.

O que se lê nesse relato do general Surovikin, de dar calafrios, é que, por mais que o presidente Donald Trump jure combater contra o ISIS com unhas e dentes, o pessoal do Pentágono tem outros planos. E continuam a usar o ISIS com uma agenda oculta nos pontos onde o governo sírio (e o Irã) são o principal inimigo. EUA parecem ter um duplo objetivo na Síria: a) criar uma zona 'tampão' nas regiões da Síria próximas das fronteiras com Israel e Jordânia, a serem 'entregues' a "terroristas do bem"; e b) assumir o controle de toda a fronteira sírio-iraquiana num gradiente de Norte a Sul, de tal modo que a capacidade logística do Irã para garantir ajuda às debilitadas forças do governo sírio seja gravemente reduzida.

Na verdade, um 'conflito congelado" pode efetivamente balcanizar a Síria. O Washington Institute for Near East Policy, think tank intimamente associado ao AIPAC, American-Israel Public Affairs Committee (grupo de lobby pró Israel ativo em Washington), distribuiu recentemente um comentário intitulado Growing Risk of International Confrontation in the Syrian Desert. Implicitamente, adverte Moscou de duras consequências que advirão se as forças russas intervierem contra os esforços em que os EUA estão empenhados para impedir que o governo sírio se consolide na região de Al-Tanf/Deir Ezzur —, área de Palmyra.

Contudo, não importa o quanto pontifiquem os think-tankistas pró-Israel em Washington, as observações do general Surovikin destacam que Moscou está bem consciente da importância estratégica de as forças do governo sírio conseguirem restabelecer o controle sobre a fronteira da Síria com o Iraque. De início, a Rússia adotara posição de ceticismo quanto à luta pelo controle das regiões desérticas da Síria que fazem fronteira com o Iraque. Agora, isso parece estar mudando – por mais que a prioridade dos russos seja trabalhar com os norte-americanos.

No sábado, a Rússia advertiu os EUA de que as forças do governo sírio avançarão sobre a própria Al-Tanf. O ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov disse ao Secretário de Estado dos EUA Rex Tillerson que os ataques aéreos dos norte-americanos contra forças do governo sírio são inaceitáveis. Exigiu "medidas concretas que impeçam que ocorram incidentes similares no futuro."

Um comunicado do Exército Sírio avançou mais um passo, ao anunciar no sábado seus planos para avançar rumo à fronteira com o Iraque ao norte de Al-Tanf. E advertiu as forças ocidentais na área para que não interviessem — "O comando geral do Exército e das forças armadas alerta para os riscos de repetidos ataques da chamada 'coalizão internacional' e de seus esforços para impedir o avanço do Exército Árabe Sírio e aliados na guerra que movem contra o terror."

As planejadas operações sírias ao norte de Al-Tanf farão gorar os planos dos EUA para encenar uma operação em solo com "bons terroristas" cujo objetivo seria chegar à cidade de Deir Ezzur antes das forças do governo sírio que avançam mais a leste, de Palmyra. Noticiários iranianos sugerem que jatos russos estão apoiando ativamente operações do governo sírio na região a nordeste de Palmyra.

Dito bem simplesmente, o Irã está criando novos fatos em solo no sudeste da Síria, com os quais EUA (e Israel) terão de aprender a conviver. Um despacho de guerra do Irã diz que "milhares de soldados do exército (sírio) e combatentes do Hezbollah entraram na periferia da cidade de Palmyra para reiniciar uma nova fase de uma das maiores operações do exército em Homs (província) em anos recentes."*****



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