segunda-feira, 5 de junho de 2017

"Estados do Conselho de Cooperação do Golfo liderados pela Arábia Saudita arruinar-se-ão até o esquecimento”

05.06.2017, Moon of Alabama



tradução de btpsilveira







Encorajada pelos Estados Unidos, a Arábia Saudita deslanchou uma campanha para finalmente subjugar o Catar até a condição de estado cliente. O plano chegou agora ao seu clímax. O Barein, o Egito, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita cortaram todos os laços com o Catar.

Foram fechados todos os espaços aéreos e navais para o tráfego catari e as rotas terrestres foram cortadas. Os nacionais do Catar têm que deixar esses países dentro de 14 dias. Aos diplomatas Cataris foram dadas apenas 48 horas para que se retirem.

São enormes as consequências imediatas. Cerca de 37 milhões de passageiros passam através de Doha a cada ano. Acontece que agora a Catar Linhas Aéreas terão que voar através do espaço aéreo iraniano, iraquiano e turco para alcançar a Europa (se essa  situação for mantida, as linhas aéreas de propriedade dos Emirados provavelmente terá que comprar montes de novos aviões). É através da Arábia Saudita que vem metade de toda a comida consumida no Catar, que faz fronteira terrestre apenas com a Arábia Saudita. Entre 600 e 800 caminhões por dia serão impedidos de passar. Estão também encerrados os 19 voos diários entre Doha e Dubai. Os preços do petróleo subiram 1.6% e as ações cataris desabaram no mercado.


São muitas as razões da confusão subitamente disparada. E muito pouco tem a ver com o Irã.

Os sauditas acusam o Catar de apoiar terroristas. É como se o Reino Unido acusasse os Estados Unidos de imperialismo, ou como se a Máfia cortasse laços com algum mafioso sob a acusação de banditismo. Como Joe Biden declarou (vídeo) quando ainda era vice presidente, tanto o Catar quanto a Arábia Saudita, países de ideologia Wahhabi, são apoiadores e financiadores do terrorismo na Síria, Iraque e mundo afora. Mas a visão saudita é que o Catar, mais “liberal” simplesmente está apoiando os terroristas “errados”.


O governo Catari, juntamente com sua mídia porta voz, Al-Jazeera, instalaram e apoiaram o governo da Irmandade Muçulmana no Egito. Os sauditas colocaram o governo abaixo ao financiar contra ele um golpe de estado militar. O Catar apoia abertamente o governo da Irmandade Muçulmana na Turquia. Também apoia o Hamas palestino, outro afiliado da Irmandade Muçulmana. Está ainda financiando vários grupos afiliados à Al Qaeda na Líbia, Síria e Afeganistão. A única representação diplomática do Talibã está localizada no Catar. Os sauditas até recentemente financiavam o Estado Islâmico. Agora estão financiando vários outros grupos jihadistas na Síria, sob controle da CIA. Os Emirados Árabes Unidos apoiam o general líbio Hiftar, que está lutando contra a Al Qaeda e outros grupos a ela alinhados, financiados pelo Catar. Os sauditas, aos beijos e abraços com Israel, não têm interesse na causa da Palestina, apoiada pelo Catar.

Há interesses divergentes no setor energético. O Catar é o maior produtor mundial e exportador de gás natural – e competidor sério contra o petróleo saudita. Recentemente, intensificou suas relações com outros produtores e comsumidores no Golfo e fora dele.

Outras questões pessoais e locais dos atritos envolvem muitas competições e até mesmo casamentos intertribais entre grupos, tribos e famílias Cataris e Sauditas. Há rumores de que grupos tribais influentes do deserto saudita de Najd, especialmente o al-Tamim, renovou recentemente seus laços com o Catar sob o atual emir PríncipeTamim Bin Hamad al-Thani. Para a Arábia Saudita, isso corresponde a um tapa na cara.  

Omã e Kuwait tomaram posição de não interferência nos atritos e tentam fazer a mediação. A Turquia, aliada do Catar, está suspeitosamente calada. Há um acordo de defesa entre Catar e Turquia, onde se promete apoio turco no caso do Catar ser atacado. O exército turco tem uma base no Catar com cerca de 600 soldados. Uma grande parte dos investimentos estrangeiros na Turquia vem do Catar. Os governos turco e catari estão intimamente ligados no seu apoio comum para a Al Qaeda e outros grupos takfiris na guerra da Síria.  

O atual impasse entre o Catar e outros países árabes do Conselho de Cooperação do Golfo foi possibilitado pela administração Trump:

Embora a administração Obama tenha tentado lidar com o CCG como um bloco, Trump, ao contrário, focou na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos como os dois pilares de sua atuação regional. Há relatos de que fortes lações se formaram entre o genro e conselheiro de Trump, Jared Kushner e o príncipe Mohammed Bin Salman na Arábia Saudita, bem como com Yusuf al-Otaiba, influente embaixador dos Emirados em Washington.

Personagens de alta relevância dentro da administração Trump, como o Secretário de Defesa Jim Mattis e o diretor da CIA Mike Pompeo, compartilham visão sobre o Irã e a Irmandade Muçulmana, que são virtualmente indistinguíveis daquelas que correm em Riad e Abu Dhabi.

Israel e Aránia Saudita armaram uma armadilha na qual Trump caiu feito um pato. Os falcões do Pentágono sonhavam em montar uma “OTAN Árabe” para lutar contra o Irã. A “OTAN Árabe” tão sonhada, pode agora ter a sua primeira guerra, mas não será lutada contra o Irã, e sim contra um de seus membros. O (não satânico, por favor) "show da Esfera” e o apoio ilimitado dos Estados Unidos para a Arábia Saudita acabou por exacerbar as fissuras dentro do CCG e pode no futuro prejudicar as operações comuns.

O exército dos Estados Unidos tem grandes interesses no Catar e nos outros países do Golfo. A sua base de Al-Udeid, na Catar, é a maior base aérea dos Estados Unidos no Oriente Médio. Ali também está instalado o quartel general do CENTCOM com cerca de 10.000 soldados e de onde é coordenada a luta contra o Estado Islâmico. A quinta frota da Marinha dos Estados Unidos está locada no vizinho Barein, o qual agora acabou de declarar guerra fria contra o Catar. Qualquer atrito ou dificuldade entre os países do Golfo prejudica as operações militares dos EUA.

Há meses está em andamento uma camapnha intense de lobby pela Arábia Saudita e Emirados contra o Catar. Uma lobista saudita chegou a ameaçar a governança do Catar com “o mesmo destino de Morsi no Egito”. Como represália, e-mails hackeados entre o embaixador dos Emirados Yusuf al-Otaiba e organizações de Lobby israelenses em Washington foram publicados recentemente. Os documentos mostram que a organização lobista sionista “Fundação para a Defesa da Democracia” está aconselhando a ditadura dos Emirados Árabes Unidos sobre como lutar contra a ditadura do Catar.

Os sauditas e (norte)Americanos publicaram, no final do “show da Esfera” um documento que declara como “apoiadores de terroristas” várias organizações e o Irã. O Catar se recusou a assinar. Os clérigos sauditas declararam então que os governantes cataris al-Thani não serão mais considerados como “parte do clã Abdel Wahhab”. Isso tira a legitimidade religiosa dos dirigentes Wahhabis.

O Catar tenta acalmar a situação da maneira que pode. Anunciou que seis de seus soldados foram feridos enquanto lutavam pelos sauditas no Iêmen. Que expulsou alguns líderes do Hamas do país. Um mediador foi enviado para o Kuwait – sem resultados até agora.

O assédio agressivo da Arábia Saudita e dos Emirados contra o Catar, com o fechamento total de todas as suas fronteiras é destinado a provocar uma capitulação instantânea. Até agora o Catar tem segurado a onda, mas no final, provavelmente cederá. Terá que parar com seu apoio ao “terrorismo”, quer dizer, para a Irmandade Muçulmana. Outro cenário possível é um golpe em Doha com um fantoche saudita adrede preparado para assumir o palco. Se não for possível, o próximo movimento poderá ser militar. O Catar tem poucas possibilidades de resistir a uma potencial invasão saudita.

Tragam a pipoca, dizem os Imãs...
Existe agora uma chance clara para o Irã de dinamitar o CCG através da intensificação de suas relações com o Catar. O Irã poderia aumentar suas exportações de comida para o país e hospedar os voos de suas linhas aéreas, tudo em troca da retirada do Catar da Síria. Nesse caso, os planos sauditas/(norte)americanos de confrontar o Irã estariam em sérios apuros. Não importa como terminará essa confusão, a unidade do CCG foi mais uma vez exposta como o que é: uma farsa. Não há conserto possível. A “liderança” saudita foi mostrada como um assédio agressivo e brutal e haverá resistências. Os planos dos Estados Unidos para um CCG unido sob a liderança saudita e controle dos EUA estão em palpos de aranha.

O ponto central de tudo isso é a guerra da Arábia Saudita contra o Iêmen. Os sauditas apoiam o governo fantoche de Hadi para o Iêmen e luta há dois anos contra os Houthis, no Norte do Iêmen, ao lado de outros estados do Golfo, entre eles o Catar. Acusam os Houthis de estarem recebendo apoio iraniano. Não há qualquer evidência para a acusação. A guerra e a coalisão fracassaram. A resistência Houthi continua inabalável. Com o Iêmen caminhando a passos largos para uma fome generalizada graças ao bloqueio das fronteiras pelos sauditas e uma epidemia de cólera se espalhando rapidamente, a guerra tem que chegar a um fim. Kuwait, Omã e Catar estão em conversações com os Houthis em Sanaa. Na última semana, tropas dos Emirados, usando helicópteros combateram mais uma vez contra milícias apoiadas pela Arábia Saudita nas imediações do aeroporto ao sul de Aden. Os Estados Unidos e a Inglaterra pressionam pelo fim da guerra e, nos bastidores, ameaçam cessar seu apoio para os sauditas. Sob sua nova liderança, os sauditas superestimaram suas habilidades. Trump fez o mesmo ao querer ampliar seu papel. Os sauditas, “macacos com Macbooks” não têm as habilidades necessárias para serem atores de relevo no palco mundial. Seu dinheiro pode comprar essa condição apenas por algum tempo.

Todo o exposto acima faz lembrar uma previsão feita cerca de dois anos atrás por um procurador iemenita em Sanaa:







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