quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Brian Eno: "Trump é um toque de despertar"

9/11/2016, Brian Eno, Yanis Varoufakis Blog













Apostei com meu amigo norte-americano Stewart Brand, que Trump venceria. Hoje cedo ele me escreveu: "Você acertou. Eu errei. Gemidos. Agora, a bizarrice!"

Respondi imediatamente:

"Bem-vindo ao mundo pós-liberal. Acho que sei exatamente como você se sente – lembro-me de como me sentia na manhã seguinte depois do Brexit, e de me dar conta de que vivia numa país sobre o qual, de fato, não sabia absolutamente nada.
É uma revolução genuína – mas revolução que não vimos chegar e não reconhecemos, porque nada tivemos com fazê-la começar e crescer. Sempre pensamos que vivíamos no centro das coisas. Agora estamos vendo que não é bem assim. Nós, não eles, estamos isolados numa bolha.
Há algo de bom nisso? Meu sentimento pós-Brexit – depois de passado o choque inicial e o desapontamento – é que há, sim, notícia boa, que chega com muito perigo e incerteza.
Os EUA liberais pressupostos 'informados' e 'atualizados' terão de se submeter a um duro autoexame, assim como a Inglaterra liberal também pressuposta (...), também está fazendo.
Nunca antes se viu por aqui tanta discussão sociopolítica orientada para examinar o futuro, nunca sentimento tão forte de 'Não prestamos a devida atenção'. Novos grupos e coalizões surgem todos os dias e toda a paisagem está em transformação. Todos estão pensando... tentando efetivamente salvar ou, se necessário, reinventar a democracia liberal.
O lado reconfortante desse pensamento é que ele destrói todas as teorias conspirativas sobre gangues secretas que manipula(ria)m os cordões. Nada disso.
Muito significativo e notável é que até a rede FOX foi colhida de surpresa. Os horríveis irmãos Koch não puseram um vintém do dinheiro deles no vencedor do dia. Para o bem ou para o mal, foi uma genuína revolução popular (o que prova que, sim, pode acontecer)."

Vejo aí uma oportunidade – motivo pelo qual estou menos desconsolado que meus amigos norte-americanos. Por muitos anos, ouvi de muitos intelectuais que "Nós não fazemos política" –, como se política fosse prática vergonhosa, mais ou menos como masturbação no metrô. Agora penso que talvez, por algum tempo, devamos pôr de lado nossos iPads Virtuais e sonhos de erguer colônias em Marte, e começar a pensar sobre o que está acontecendo aqui, na Terra.

É um sinal de despertar para muita gente. Alegro-me que o Movimento para Democracia na Europa [ing. Democracy in Europe Movement], DiEM2015, já esteja acordado.*****


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