domingo, 3 de julho de 2016

Síria e Hillary: um e-mail revelador

2/7/2016, Robert Parry, Consortium News (Excerto)


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



"Publicamente, Hillary Clinton zombou da democracia e jogou com os argumentos 'humanitários', mas um de seus e-mails oficiais – distribuídos agora pelo Departamento de Estado – explica que a razão subjacente para a guerra de "mudança de regime" na Síria era o desejo do governo israelense de remover a Síria como o elo na cadeia de suprimento entre o Irã e o inimigo de Israel, o Hezbollah do Líbano.

Embora não datado e não assinado, o "e-mail Hillary Clinton" refletia o pensamento da então secretária de Estado dos EUA no final de abril de 2012 (quando o e-mail parece ter sido enviado), sobre um ano já de guerra na Síria"




O "e-mail Hillary Clinton"
Aqui traduzido, sem revisão técnica, tradução não oficial, para simples leitura:

"O governo Obama tem-se mostrado desconfiado, compreensivelmente, quanto a engajar-se em operação aérea na Síria como a que foi conduzida na Líbia, por três principais razões. Diferente das forças da oposição líbia, os rebeldes sírios não são unificados e não ocupam territórios. A Liga Árabe não solicitou intervenção militar, como fez na Líbia. E os russos opõem-se.
A Líbia foi caso mais fácil. Mas, exceto pelo louvável objetivo de salvar civis líbios de serem atacados pelo regime de Gaddafi, a operação líbia não teve consequências duradouras para a região. A Síria é mais duro. Mas sucesso na Síria seria evento transformador para o Oriente Médio. Não apenas mais um ditador sanguinário sucumbiria à oposição das massas nas ruas, mas a região seria transformada para melhor, com o Irã já sem ponto de apoio no Oriente Médio a partir do qual ameaçar Israel e minar a estabilidade na região.
Diferente da Líbia, intervenção bem-sucedida na Síria exigiria substancial liderança diplomática e militar dos EUA. Washington teria de começar por mostrar disposição para trabalhar com aliados regionais como Turquia, Arábia Saudita e Qatar para organizar, treinar e armar forças rebeldes sírias. Então, usando território turco e possivelmente a Jordânia, diplomatas dos EUA e oficiais do Pentágono podem começar a fortalecer a oposição. Exigirá tempo. Mas a rebelião já dura muito tempo, com ou sem envolvimento dos EUA.
O segundo passo é desenvolver apoio internacional para operação aérea de coalizão. A Rússia jamais apoiará tal missão, portanto não faz sentido operar mediante o Conselho de Segurança da ONU. Alguns dizem que o envolvimento dos EUA arrisca guerra mais ampla com a Rússia. Mas o exemplo do Kossovo mostra realidade diferente. Naquele caso, a Rússia tinha laços étnicos e políticos genuínos com os sérvios, que não existem entre Rússia e Síria, e mesmo naquele caso a Rússia pouco fez, além de reclamar. Oficiais russos já reconheceram que não ficarão no caminho se a intervenção vier.
Armar rebeldes sírio e usar poder aéreo ocidental para destruir no solo helicópteros e aviões sírios é abordagem de baixo custo e alto rendimento. Desde que os líderes políticos em Washington mantenham-se firmes em que não haverá coturnos norte-americanos em solo, como fizeram no Kosovo e na Líbia, os custos para os EUA serão [grifado] limitados. A vitória talvez não venha rapidamente ou facilmente, mas virá.  E os ganhos serão substanciais. O Irã estará estrategicamente isolado, incapaz de exercer qualquer influência no Oriente Médio. O regime que se instalar na Síria verá os EUA como amigos, não como inimigos. Washington ganhará reconhecimento substancial por lutar na defesa do povo no mundo árabe, não de regimes corruptos. Para Israel, o argumento pelo qual deve atacar diretamente as instalações nucleares do Irã será facilitado. E um novo regime sírio seria aberto a ação imediata nas congeladas conversações de paz com Israel. O Hezbollah no Líbano seria separado de seu patrocinador iraniano, porque a Síria deixaria de ser ponto de trânsito para treinamento, assistência e mísseis iranianos. Todos esses benefícios estratégicos e o prospecto de salvar milhares de civis de serem assassinados pelo governo de Assad (dez mil já foram mortos nesse primeiro ano de guerra civil).
Levantado o véu do medo, da vida do povo sírio, os sírios parecem determinados a lutar pela própria liberdade. Os EUA podem e devem ajudá-los – e ao fazê-lo, ajudar Israel e ajudar a reduzir o risco de guerra mais ampla. – FIM DO E-MAIL 

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