sábado, 29 de agosto de 2015

Mauro Santayana: Youssef no país dos adivinhos

artigo publicado em 26/08/2015 no Jornal do Brasil

Por Mauro Santayana



A Operação Laja Jato, caracterizada por  "revelações" feitas a conta-gotas, acompanhadas, na maioria dos casos, pela gritante ausência de provas inequívocas, está voltada, como na fábula  do Lobo e do Cordeiro, para derrubar o governo a qualquer preço, seja qual for a justificativa.




O principal fato da sessão desta terça-feira, da prevista “acareação” entre os “delatores premiados” Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, na CPI da Petrobras, da Câmara dos Deputados, talvez não mereça muito espaço nas manchetes desta quarta.


Não bastando o constante vazamento, quase sempre seletivo, sobre suposições, ilações, delações “premiadas”, subjetivas, inaugurou-se ontem, no âmbito da Operação Lava-Jato - em mais um exemplo de que o uso do cachimbo faz a boca torta -  o instituto do “vazamento futuro” de delações, ilações, suposições, em um espetáculo onde quase tudo é suposto e subjetivo, menos o alvo final do processo.

Por isso, mesmo que com mais buracos que um queijo suíço, nessa operação já não espanta o enredo conhecido, caracterizado por  "revelações" feitas a conta-gotas, acompanhadas, na maioria dos casos, pela gritante ausência de provas inequívocas, que está voltado, como na fábula  do Lobo e do Cordeiro, para derrubar o governo a qualquer preço, seja qual for a justificativa.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O Mito de uma 'Ameaça' Russa

26/8/2015, Pepe Escobar, Sputnik

Não passa uma semana sem que o Pentágono ponha-se a se lamuriar contra alguma terrível "ameaça" russa.




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


             "RUSSIA QUER GUERRA - Vejam quão perto eles colocaram o país de nossas bases militares"



O comandante do Estado-maior das Forças Conjuntas dos EUA, Martin Dempsey, entrou em território de "não sabidos sabidos", que pertence por direito Donald Rumsfeld, quando, recentemente, tentou conceituar a "ameaça": “Ameaças são a combinação, ou o agregado, de capacidades e intenções. Deixemos de lado por enquanto as intenções, porque não sei o que a Rússia intenta.”

Bom. Dempsey pelo menos admite que não sabe do que fala. Saiba ou não saiba, parece saber que a Rússia é mesmo uma "ameaça" – no espaço, no ciberespaço, nos mísseis cruzadores disparados em terra, submarinos.

E é principalmente ameaça à OTAN: "Uma das coisas que a Rússia parece, sim, que faz, é desacreditar a OTAN, ou, ainda mais sinistramente, criar condições para o fracasso da OTAN.”

Quer dizer que a Rússia "parece, sim, que faz" desacreditar uma OTAN já autodesacreditada. Terrível "ameaça".

Todos esses jogos retóricos acontecem enquanto a OTAN “parece, sim, que faz” aprontar-se para confrontar diretamente a Rússia. E que ninguém se engane: Moscou toma a beligerância da OTAN, sim, como ameaça real.

Síria e Iraque são também guerras pela água. E outras virão.

27/8/2015, Moon of Alabama

Foreign Affairs traz artigo cuja leitura recomendo sobre as guerras pela água entre Turquia, Síria e Iraque: Rivers of Babylon.





Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Turquia construiu muitas, muitas barragens por todo o país, para produzir eletricidade, mas também para irrigação. Quando viajei pelo leste da Turquia nos anos 1990s muitos novos projetos, partes do Southeastern Anatolia Project (tu. GAP), eram visíveis; e água recentemente retida em barragens era fornecida às regiões secas do sudeste mediante canais abertos. Muita daquela água era perdida por causa da evaporação, mas também por que as novas plantações usavam espécies que exigem água intensiva numa região quente e em muitos pontos desértica.

A água agora oferecida a fazendeiros turcos antes corria pelo Eufrates e Tigre, para a Síria e Iraque. Três anos secos na Síria, 2006-2009, induziram muitos fazendeiros a deixar as terras secas e mudar-se para as cidades, onde só poucos deles encontravam trabalho:

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Admirável (Miserável) Mundo Novo Normal

25/8/2015, Pepe Escobar, RT

E qual a verdadeira história por trás da 2ª-feira Negra (seguida de uma 3ª-feira Azul)?





Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


          © Yves Herman / Reuters


As ações no Índice Xangai/Xenzhen [CSI 300] subiram estonteantes 150% nos 12 meses antes de meados de junho. Pequenos investidores – quase 80% do mercado – acreditaram que a festa duraria para sempre, e em muitos casos endividaram-se pesadamente para participar da bonanza do "enriquecer é glorioso".[1]

Tinha de haver uma correção. Aquelas ações – que alcançavam um pico em sete anos – estavam obviamente sobrevalorizadas. Combine isso com uma montanha de dados que mostram, essencialmente, uma desaceleração econômica, e o resultado era previsível: as ações do índice Xangai e Xenzhen perderam tudo o que ganharam até aqui em 2015 – e organizou-se venda global massiva. Até conhecidos bilionários perderam, é, bilhões, num piscar de olhos.

Bem-vindos ao novo normal da China; ou ao nosso admirável (miserável) mundo novo normal.

A crise da desordem neoliberal 

A dura correção nas ações do índice Xangai/Xenxém é parte do fim de um ciclo. Adeus à China que confiava em taxas de investimento de 45% do PIB. E adeus à China da sede incontrolada por mercadorias.

O problema é que o ajuste no modelo econômico da China está diretamente ligado ao coma persistente da desordem neoliberal, que aí está desde 2007/2008.

Ninguém precisa ser Paul Krugman, para saber que o novo normal é comércio global anêmico; crise severa em quase todos os mercados emergentes; absoluta estagnação cum recessão na Europa; e a China "fábrica do mundo" vendendo menos para o resto do mundo.

Enquanto isso, o dólar norte-americano hiper valorizado estrangula as exportações dos EUA: declínio de 3% só no primeiro semestre. Importações também caíram 2,2%; e isso se soma à corrosão estrutural do declinante poder de compra da classe média.

Para onde quer que se olhe, toda a paisagem estrutural grita a crise da desordem neoliberal. E a máquina chinesa do turbocapitalismo enfrenta dificuldade (relativa) que claramente revela como o cassino financeiro global não encontra apoio dinâmico em nenhum outro lugar.

Mais de $5 trilhões em papel moeda foram varridos para fora desde que Pequim desvalorizou (modestamente) o yuan, dia 11 de agosto – o que disparou a venda global.

Agora, o Fed pode adiar o aumento da taxa de juros pela primeira vez em quase uma década, até o final de 2015. Mas nem assim alguém se atreve a prever cenário promissor de crescimento, considerando um dólar norte-americano ultra forte, um yuan relativamente desvalorizado e queda persistente nos preços do petróleo.

          © Olivia Harris / Reuters

Nada de implosão, nada de pânico 

Ao contrário do que o ocidente delira/prevê, a China não está implodindo. Credit Suisse distribuiu análise muito equilibrada. Aqui, os pontos principais.

“China ainda tem muito saudável superávit em conta corrente, sua conta capital permanece em parte fechada e suas maiores instituições financeiras são em grande medida propriedade do estado. Esses fatores combinados garantem à autoridade monetária carta branca para criar liquidez no sistema se quiserem fazê-lo.”

O que acontecerá é que “o crescimento estrutural da China continuará a desacelerar nos próximos poucos anos.”

Não haverá qualquer “pouso turbulento disparado por aperto de crédito e o regime de sistema financeiro/taxa de juros  pode ser mantido relativamente estável.”

Esperar que o crescimento dos retornos/ganhos das empresas chinesas “oscile de volta ao nível de alguns anos passados não é realista.” Mas, crucialmente, “nada justifica o medo de que se repita a crise financeira asiática de 1997 ou alguma crise financeira global como a de 2008.”

Feitas todas as contas, o Credit Suisse recomenda… nada de pânico: “Investidores [devem] focar mais as ações China/Hong Kong que têm fortes microfundamentos e são menos suscetíveis ao crescimento econômico chinês, mas foram arrastadas para baixo por causa da recente fragilidade do mercado.”

Buraco negro no "Buraco do Jackson" [Jackson Hole, Wyoming]

Assim sendo, do ponto de vista de Pequim está tudo sob (relativo) controle.

Mais uma vez: em termos globais, essa recente bolha no cassino não se compara, nem de longe, à crise financeira asiática de 1997/1998. Em vez disso, é, isso sim, mais um claro sinal da fragilidade global em tempo integral, recorrente, que anda sendo tratada como alguma nova normalidade, combinada com a recusa absoluta, de Wall Street, a qualquer regulação financeira forte.

A bola está agora no campo do Fed: o que fazer do tsunami de moeda estrangeira que empurra o EUA-dólar para cima, e torna a indústria norte-americana totalmente não competitiva.

A era dos bancos centrais imprimindo dinheiro eletrônico num 'alívio quantitativo' grátis para todos – dinheiro barato fazendo aumentar a "volatilidade do mercado" – pode não ter acabado, ainda. Vejamos o que acontece nessa 5a-feira, quando um simpósio de banqueiros de bancos centrais em Jackson Hole [Buraco do Jackson], Wyoming, estará pesquisando sobre o que fazer da "volatilidade do mercado".

Bancos centrais adoram empurrar para cima os preços das ações, para beneficiar os 0,0001%. Portanto, se esperam mais delírios aí pela frente. Mas podem confiar que tudo que era sólido desmancha-se no ar.[2] Inclusive o sonho neoliberal. *******

[1] 19/7/2007, "The era of prosperity is upon us", Patrick Whiteley, China Daily:
"Quando Deng Xiaoping enunciou sua famosa lição "Enriquecer é glorioso" (ing. To get rich is glorious) (...), o ocidente ficou boquiaberto.

Em 1986, uma equipe do programa norte-americano 60 Minutes voou a Pequim para entrevistar o líder chinês de 82 anos. A entrevista, conduzida pelo veterano repórter Mike Wallace, foi fascinante.

Wallace: "Enriquecer é glorioso". Essa declaração, feita ao povo por dirigentes chineses surpreende muita gente no mundo capitalista. O que tem isso a ver com comunismo?

Deng: Nos termos do marxismo, a sociedade comunista baseia-se na abundância material. Só onde haja abundância material, pode-se aplicar o princípio da sociedade comunista – "de cada um, conforme a capacidade; para cada um conforme a necessidade". O socialismo é o primeiro estágio do comunismo. Evidentemente, cobre um longo período histórico.

A principal tarefa, no estágio socialista, é desenvolver as forças produtivas, manter crescente a riqueza material da sociedade, aprimorar sempre a vida do povo e criar condições materiais para o advento de uma sociedade comunista. Não pode haver comunismo com pauperismo, ou socialismo com pauperismo.

Por isso, enriquecer não é pecado. Contudo, o que "enriquecer" significa para nós não é o mesmo que significa para você. A riqueza, numa sociedade socialista pertence ao povo. Enriquecer, numa sociedade socialista significa prosperidade para todo o povo. Os princípios do socialismo são: primeiro, desenvolver a produção; segundo, desenvolver a prosperidade comum. Admitimos que alguns e algumas regiões tornem-se prósperas antes, para assim alcançarmos mais depressa a prosperidade comum. Por isso nossa política não levará à polarização, à situação na qual os ricos ficam cada vez mais ricos, e os pobres,cada vez mais pobres" [NTs].
[2] "Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas" (Karl Marx e F. Engels, Manifesto do Partido Comunista, 1948) [NTs].

Embaixadores de Israel: mais uma farsa do moderno apartheid

19/8/2015, Vijay Prashad*, al-Araby, Londres


"Israel está investindo muito na chance de apelar ao crescente movimento pentecostal no Brasil, que inclui grupo significativo de cristãos sionistas. Enviar para lá, como seu embaixador, Dani Dayan, ex-líder do Conselho de Comunidades Judias da Judeia e Samaria, e propagandista incansável da colonização ilegal de territórios palestinos, é ato que atropela Brasília, com Israel buscando contato com grupo específico da população, sem mediação diplomática."




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Israel vê a ONU como território hostil. Por isso manda embaixadores militantes da anexação, cuja resposta-padrão a qualquer crítica é a acusação de 'antissemitismo' – diz Vijay Prashad.

O governo de Israel não aprecia a ONU. Cartaz frequente nas ocupações de colonos ilegais é "UNwelcome" [ONU não é bem-vinda].

Para Israel, a ONU é território hostil. Seus embaixadores comportam-se lá como se estivessem em guerra contra o mundo. Ron Prosor, o ex-embaixador, sempre agrediu os altos funcionários da ONU que não concordassem com ele, chamando-os de "antissemitas".

Agora, Israel enviou novo embaixador à ONU. Danny Danon é cópia de Prosor – ambos são agressivos e farsantes. Danon é embaixador dos colonos ilegais, furioso propagandista da "Grande Israel".

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O que aconteceu na China?

(Em poucas palavras, de O Minotauro Global, 2011, 2013)
25/8/2015, Yanis Varoufakis, blog

A Grécia sumiu das manchetes, por enquanto, porque só se fala da crise chinesa. Nesse nosso mundo globalizado, as duas crises estão intimamente interconectadas, ambas como repercussões do 'momento' 2008 do capitalismo global.




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Aqui vão alguns excertos de meu livro O Minotauro Global [The Global Minotaur], das edições de 2011 e 2013:

"CHINA DEPOIS DO MINOTAURO" 
Postado dia 27/11/2012

No penúltimo capítulo do livro, discuti o Dragão Rampante que, como nos dizem, estaria esperando nas coxias, supostamente para derrotar o Minotauro Global (interessados encontram aqui uma cópia PDF desse capítulo). Nas conclusões, redigidas em janeiro de 2011, escrevi:

“Para ganhar tempo, o governo chinês está estimulando sua economia em crescimento e a mantém blindada contra revalorizações da moeda, na esperança de que aquele crescimento vibrante possa continuar. Mas estão vendo os sinais, e eles não sinalizam boa coisa. Por outro lado, a ratio consumo da China/PIB está caindo; sinal claro de que o mercado doméstico não pode gerar demanda suficiente para as gigantescas fábricas chinesas. 

Por outro lado, as suas injeções fiscais estão causando bolhas imobiliárias. Se nada for feito, elas podem explodir e causar assim um desdobramento doméstico catastrófico. Mas como se esvazia uma bolha, sem impactar o crescimento? Essa é a pergunta de vários trilhões de dólares que Alan Greenspan não conseguiu responder. Não se sabe se as autoridades chinesas conseguirão.”

Nos 18 meses depois de essas linhas terem sido escritas (em 2011), os eventos já confirmaram o padrão projetado. 

A tabela adiante mostra que a taxa do consumo chinês continua na descendente. Em 2011, de cada um dólar de renda produzida, só 29 cents entravam nos mercados chineses. Com exportações líquidas dando pequena contribuição nacional à demanda doméstica (mesmo que contribuam muito para a capacidade do país para investir e, assim, aumentem a produtividade), o ônus cai cada vez mais sobre o investimento, para suprir a demanda. Porém, como sugerido no parágrafo acima, essa ênfase no investimento é faca de dois gumes: porque ameaça soprar o gênio para fora da garrafa nos mercados imobiliários, onde as bolhas já fervem ameaçadoramente há algum tempo.


De fato, em 2011 as autoridades chinesas apertaram as condições para concessão de novos empréstimos para moradia, na esperança de que esse movimento não afetasse investimentos produtivos, ao mesmo tempo em que impedisse o surgimento de mais elefantes brancos e blocos de apartamentos vazios (que profissionais chineses de classe média compram, depois de endividar-se pesadamente, mas deixam vazios, na esperança de adiante vendê-los com lucro – uma bolha-padrão em formação).

Infelizmente, enquanto a demanda por moradias caiu, sinais claros logo apareceram de que a intervenção do governo não esvaziara só a bolha imobiliária, mas também o resultado industrial. Que sinais claros? O nível de consumo de energia elétrica, que empacou no início de 2012. A última vez que isso aconteceu, em 2008/9, a taxa de crescimento da produção industrial caiu rapidamente logo depois, o que levou Pequim a estimular a economia num nível que deprimiu ainda mais a ratio do consumo. Para evitar isso, o governo está agora relaxando as limitações à concessão de hipotecas, aceitando um renovado risco de bolha na moradia.

Em resumo, assim como nos países europeus superavitários, também na China a redução de ¼ na demanda global agregada ocasionada pela passagem do Minotauro Global, impediu qualquer recuperação significativa. Na verdade, tornou o mundo em que vivemos ainda mais precário, porque os remédios tentados (estímulos, na China; 'alívio quantitativo', nos EUA; e 'austeridade' na Europa) aumentam a probabilidade de que a Crise lance pequenos e repulsivos apêndices. Assim, até que e a menos que algum mecanismo global de reciclagem brote das cinzas do Minotauro para substituí-lo, o mundo continuará a ser lugar inseguro, deprimente. *****

Privatização: o coração do fascismo

25/8/2015, Eric Zuesse, Strategic Culture


Privatizações estão cada vez mais em moda, na Grécia, na Ucrânia, nos EUA e na Grã-Bretanha – e privatizações são um dos traços centrais do fascismo.





Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




O núcleo do fascismo é a ideia de que há alguma elite – seja "os arianos" seja "o povo escolhido por Deus" ou assemelhados – que devem comandar; e todos os demais seres humanos existem para servir àquela elite. Inevitavelmente, essa elite oficial consiste no pessoal que o poder, seja qual for, escolhe para serem os proprietários de tudo que tenha valor de venda. E crescentemente os bens vão-se tornando propriedade privada daquela gente – e até o que foi criado como patrimônio público torna-se privado. Praias tornam-se privadas. Escolas. Florestas. Rios. Recursos naturais em geral tornam-se privados. Não se trata só da arte que os nazistas roubaram e privatizaram e/ou exibem em museus controlados por eles, que se torna privada; é tudo que aquela elite deseje ter e controlar: tudo será privatizado. Esse é o ideal fascista.

O sistema legal/judiciário fascista acomoda os proprietários legais fascistas em qualquer nação fascista, assim como qualquer sistema legal/judiciário acomoda os proprietários legais em absolutamente qualquer nação. E, no fascismo, os proprietários legais são a aristocracia, que é constituída do pessoal que ajudou a fazer do sistema o que ele hoje é. Nos casos-padrão, é a aristocracia que já existe numa dada nação, se antes foi uma democracia (aristocratas tendem a odiar a democracia; por isso criam o fascismo para substituí-la), mas também pode ser um grupo parcialmente novo e parcialmente composto do segmento vitorioso da velha aristocracia – o segmento da velha aristocracia que venceu o conflito intra-aristocracia que sempre há, dentro de qualquer aristocracia. Ao mesmo tempo em que qualquer aristocracia sempre está em guerra contra o bem público, assim também há concorrência dentro de todas as aristocracias, para determinar quais aristocratas dominarão os demais.

Todos os fascismos são controlados pela aristocracia nacional e servem a essa gente – não ao público, que nada recebe, além de propaganda do regime dos aristocratas. Mesmo numa ditadura, não só numa democracia, a mídia-empresa é indispensável para vender ao público as políticas do governo. Se a imprensa-empresa, vira imprensa-empresa-privada... ela se torna propriedade daquela aristocracia. A maioria do público não tem como escapar da propaganda. E se os aristocratas estão no comando, pouca gente algum dia chegará, sequer, a saber disso.

Assim, a privatização substitui patrimônio público, patrimônio do estado, por patrimônio privado, e assim transfere o controle, que deve caber a governos eleitos (que prestam contas, no mínimo, a cada quatro anos, diante da urna eleitoral), a acionistas privados, que não prestam contas a ninguém e que decidem sobre aquele patrimônio, seja uma escola, um hospital, terra, água, estradas, o que for. Tudo, qualquer coisa pode ser privatizada. Qualquer coisa pode ser comandada por alguma elite, por algum 'proprietário'. O fascismo se dedica a maximizar esse processo: tudo que algum dia foi propriedade pública é transformado em propriedade privada.

Sabendo-se disso, é fácil compreender por que

– o primeiro bloco de privatizações aconteceu na primeira nação fascista que o mundo conheceu, a Itália, nos anos 1920s;[1] e


Mussolini e Hitler

As privatizações começaram com Mussolini, depois foram instituídas com Hitler. A bola fascista continuou a rolar; e, depois de um hiato de umas poucas décadas, logo depois da fantasiada derrota dos fascistas na 2ª Guerra Mundial, as privatizações reapareceram; e novamente vieram à tona depois de 1970, quando forças fascistas na aristocracia global – através de CIA, FMI, Grupo de Bilderberg e Comissão Trilateral – impuseram o reino global dos maiores proprietários privados de ações e papéis: outra vez os aristocratas do mundo ganham porcentagens crescentes do que, antes deles, foi patrimônio público.

As privatizações, depois de terem nascido em berço fascista durante os anos que antecederam a 2ª GM, voltaram a aparecer:

– nos anos 1970s, no governo fascista do ditador chileno Augusto Pinochet; 

– nos anos 1980s, no governo fascista da britânica Margaret Thatcher (apaixonada apoiadora do apartheid na África do Sul); e também

– no governo de Ronald Reagan, fascista sorridente (que veio depois do sucesso da "Estratégia Sul" de Richard Nixon, de dominação branca no então ressurgente conservadorismo norte-americano, e que se pode dizer que foi o primeiro presidente absolutamente fascista que os EUA tiveram); e 

– nos anos 1990s sob vários governos fascistas – de líderes que antes haviam sido comunistas, em toda a já então autodissolvida União Soviética, os quais, sob a orientação dedicada do departamento fascista de Economia da Universidade de Harvard –transferiram o controle, da nomenklatura de antes, para os "oligarcas" dependentes do ocidente de hoje.

E as privatizações estão novamente em fúria, ativas por todo o mundo, como nos EUA fascistas e no Reino Unido fascista. [e das privatizações na Grécia fascistizada pela Alemanha plus Eurogrupo, então, nem se fala (NTs)]

Mussolini era o homem do futuro, mas – depois que morreram Franklin Delano Roosevelt, Thatcher (finalmente) e Reagan, e outros 'livres-mercadistas' assumiram o poder –, a cada dia que passa, mais o "futuro" de Mussolini vai-se tornando nosso "agora": a ideologia das Potências do Eixo realmente está vencendo no mundo pós-2ª GM. Só que, dessa vez, é chamada por nomes como "libertarismo" [ing. libertarianism] ou "neoliberalismo", não mais como "fascismo". 

É a Grande Safadeza. A Grande Mentira. O simples movimento de rebatizar o fascismo, que passa a chamar-se "libertarismo" ou "neoliberalismo", bastou para enganar as massas. Convenceu-as de que haveria fascismo pró-democracia...

O "capitalismo" também foi redefinido, para se referir exclusivamente à forma de capitalismo controlado pela aristocracia: o fascismo. A batalha ideológica foi assim aparentemente ganha, com um truque barato de manipulação terminológica. Basta isso, para a ditadura safar-se e vencer.

A forma de capitalismo socialmente controlado, como se viu em alguns países do norte da Europa, tem sido chamada em geral de "socialismo"; e, claro, opõe-se a todas as formas de ditadura, sejam comunistas sejam fascistas. O socialismo é a forma democrática do capitalismo, é a forma de capitalismo que serve ao interesse público, em vez de servir à aristocracia, em todos os pontos em que os interesses sejam conflitantes. O socialismo subordina a aristocracia ao público. 


(Assim, reconhecendo essas duas realidades chocantes aí conectadas, as decisões básicas do mundo podem realmente ser tomadas por não mais de uma centena de pessoas, cujos representantes, em fóruns como Bilderberg, podem coordenar privadamente todas as coisas e, assim, manter uma espécie de supra-governo global, do qual aqueles representantes são ministros. A missão deles é fazer acontecer, nos detalhes, o que quer que tenha sido decidido entre os agentes em benefício próprio. 

Os pagamentos podem ser feitos pela via normal, entre as respectivas corporações, e esse arranjo pode incluir pagar empresas de lobbyistas, etc. – e também empresas de mídia, anúncios, sejam de 'produtos' comerciais ou de 'produtos' políticos, para manter tudo alinhado com o plano global-aristocrático geral.)

Em décadas recentes, a aristocracia internacional, com os EUA à frente, puseram, de fato, em movimento, um plano para privatizar um emergente governo mundial, e assim impedir que venha a ser democrático: em vez de socialista, querem que seja governo mundial fascista. 

Suas origens podem ser encontradas nos próprios escritos de Mussolini.[2] 

(Se se pudesse dizer que ele tinha um "Plano B", bem poderia ter sido esse, e a total adoção do plano parece ser só uma questão de tempo. O atual sistema fascista informal – via reuniões de Bilderberg etc., – como acabo de historiar, seria então operado pelas franjas daquele sistema mais formal, que destruiria a soberania nacional e qualquer traço de democracia, em muitos assuntos atuais de governo, como regulação ambiental e segurança do consumidor. 

Em certo sentido, virtualmente todo o mundo seria uma prisão onde se prenderia o que é público, e só aristocratas teriam a chave que abriria a porta –, se e quando tivessem vontade de deixar que algum item público entrasse em seu minúsculo luxuriante mundo livre.)

Mussolini, vale registrar, não inventou o fascismo: ele o aprendeu de seu professor Vilfredo Pareto, um dos fundadores da teoria microeconômica prestigiada até hoje e intrínseca em todas as análises de custo/benefício nas economias capitalistas. (De fato, é economia fascista, nem socialista nem comunista. Ainda não há teoria microeconômica para democracias – não há microeconomia socialista, ou nenhuma que tenha havido sobreviveu). Teorias aristocráticas, como a de Pareto, foram então incorporadas ao que se chama "economia do bem-estar", criada para conviver com sua teoria política, o fascismo. Pareto foi corretamente chamado de "o Karl Marx do fascismo". 

Por exemplo: segundo Pareto, alforriar um(a) escravo(a) seria errado, a menos que o proprietário aceitasse a que a alforria do escravo fosse incluída noutra transação, e o proprietário ficasse satisfeito com o pagamento a receber em toda a transação. Se o proprietário do escravo não ficasse satisfeito, a transação seria "ineficiente", na terminologia da teoria microeconômica fascista – que está na base da economia capitalista que há hoje – a economia que é ensinada em todo o mundo.

O presidente Abraham Lincoln dos EUA foi uma das primeiras pessoas a pregar coerentemente a favor do socialismo. Se para Pareto a propriedade vem em primeiro lugar, para Lincoln em primeiro lugar vêm as pessoas. Para Pareto os direitos de propriedade eram supremos. Para Lincoln, em primeiro lugar vinham os direitos humanos.

Lincoln foi tragicamente assassinado por um conservador, e o partido político que ele ajudara a fundar (o Partido Republicano) foi rapidamente tomado por aristocratas norte-americanos – o que também está narrado no link acima, deixando claro que Lincoln teria desprezado o Partido Republicano que houve depois dele; o teria repudiado).

Embora os EUA hoje se oponham ao socialismo, os dois maiores presidentes dos EUA, Lincoln e Franklin Delano Roosevelt, foram ambos socialista: os dois punham os direitos humanos acima dos direitos de propriedade; os dois prestigiaram o capitalismo democrático. Diferente de FDR, Lincoln viveu antes de o fascismo existir; naquele momento o equivalente era o feudalismo, e Lincoln estava decidido a pôr fim ao feudalismo no sul dos EUA – daí a Guerra Civil.

Vários intelectuais norte-americanos já escreveram que ambos, Lincoln e FDR eram "socialistas", e no caso de Lincoln, Claude Fischer, por exemplo, lista as ações desse presidente como motivo de o classificar como "socialista". Lincoln não foi mero socialista pioneiro; de fato, foi socialista bem amadurecido.

Os EUA só se tornaram estado fascista em décadas recentes. No fim de uma análise de dados de pesquisa em 2012, eu mesmo escrevi: "O perigo de o mais consumado fascismo chegar rapidamente a Washington é bem real – a culminação da deriva de Reagan rumo à direita. É o que se vê não só em dados de pesquisa, mas também todos os dias no noticiário, especialmente se observamos as notícias à luz da história. Todos devem saber que esse risco existe." Mas hoje, diria de outro modo: Já aconteceu. 

O último presidente dos EUA antes de Ronald Reagan, Jimmy Carter, disse recentemente, num surpreendente arroubo de honestidade, refletindo sobre o que acontecera aos EUA depois que deixou a presidência:

"Hoje já não passa de uma oligarquia, e a corrupção política sem limites é a essência da indicação à candidatura ou da eleição à presidência. E a mesma coisa se aplica a governadores e aos senadores e membros do Congresso dos EUA. Significa que hoje assistimos à subversão de nosso sistema político, que existe hoje para recompensar os principais doadores das campanhas, que querem e esperam, e muitas vezes obtêm, depois que passam as eleições, privilégios para eles mesmos."

Aí está descrito precisamente o fascismo: o próprio governo foi privatizado. *****

[1] BEL, Germà, From Public to Private: Privatization in 1920's Fascist Italy [Do Público ao Privado: Privatização nos anos 1920s, na Itália Fascista], 2009, Series/Report (Instituto Universidade Europeia), n. EUI RSCAS; 2009/46 / URI: http://hdl.handle.net/1814/12319 / ISSN: 1028-3625 (livre acesso)


RESUMO [aqui traduzido]:

O governo fascista da Itália aplicou política de privatizações em grande escala entre 1922 e 1925. O governo fascista privatizou o monopólio estatal de match sale, eliminou o monopólio estatal sobre seguros de vida, vendeu quase todas as redes telefônicas estatais para empresas privadas, reprivatizou a maior produtora de máquinas e deu concessões a empresas privadas para construir e operar estradas. Embora considerações ideológicas também tenham pesado, as privatizações foram usadas como ferramenta política para ganhar o apoio dos empresários e industriais para o governo e o Partito Nazionale Fascista. As privatizações também contribuíram para equilibrar o orçamento – principal objetivo da primeira fase da política econômica fascista."

[2] "A corporação joga no terreno econômico exatamente como o Grande Conselho e a milícia jogam no campo político. O corporacionismo é economia disciplinada e daí vem o controle, porque ninguém pode imaginar disciplina sem diretor. O corporacionismo está acima do socialismo e acima do liberalismo. Criou-se uma nova síntese."

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

João Pedro Stédile: Faz 20 anos que a esquerda só pensa em eleição”

24/8/2015, João Pedro Stédile, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) -- Sul21 (entrevista a Marco Weissheimer)

Há alguns meses, ou mesmo anos, João Pedro Stédile, uma das principais lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), vem repetindo algumas advertências dirigidas à esquerda brasileira, relacionadas à evolução da conjuntura política nacional e internacional. 







Uma dessas principais advertências consiste em alertar sobre a importância de não resumir a luta política à luta eleitoral e de não sucumbir às armadilhas da política tradicional, como abraçar o financiamento privado de campanhas como um método natural de fazer política. 

A crise política iniciada após a reeleição de Dilma Rousseff e a ofensiva da oposição e dos setores mais conservadores do país com o objetivo de derrubar a presidenta eleita pelo voto popular recolocou essas advertências na ordem do dia.

Na última sexta-feira, Stédile esteve em Porto Alegre para participar de um debate na abertura do 14º Congresso Estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em entrevista ao Sul21, ele falou sobre a conjugação de três crises no presente – econômica, política e social –, sobre as movimentações de seus principais protagonistas e seus possíveis desdobramentos. 

E apontou aquele que considera ser o principal desafio da esquerda neste período: “Construir força popular organizada. A esquerda desaprendeu a fazer trabalho de base, de conscientizar o povo, de fazer pequenas reuniões. Faz 20 anos, que a esquerda só pensa em eleição”, disse Stédile.

Sul21: Na última semana, tivemos uma nova série de manifestações contra e a favor da presidenta Dilma Rousseff e a denúncia oferecida contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na tua opinião, como esses eventos influenciam no atual clima de instabilidade política que marca a conjuntura nacional?

João Pedro Stédile: O Brasil está vivendo um período muito confuso e complexo onde, a cada semana, surgem fatos que complicam mais ainda a leitura da conjuntura na qual inserem esses dois episódios que citou na tua pergunta. Essa complexidade, na avaliação do MST e dos movimentos sociais como um todo, deve-se ao fato de estarmos vivendo um período que conjugou três crises.

Ao escolherem a Turquia, não os curdos, EUA mostram sua verdadeira cara

21/8/2015, Joris Leverink,* Telesur, Venezuela

Na escolha dos aliados, na batalha contra o Estado Islâmico, os EUA estão mostrando que derrotar os jihadistas pode não ser sua prioridade absoluta.





Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Combatentes Curdas na Resistência ao Estado Islâmico (EI)


Escolher aliados em tempo de guerra é negócio a ser feito com extremo cuidado. Podem-se fazer concessões, mas sem ceder demais. É preciso confiar, sem se tornar dependente demais. É preciso manter-se ao mesmo tempo firme e flexível. Aliados em tempo de guerra podem tornar-se amargos inimigos tão logo a vitória seja declarada, e o pior inimigo pode revelar-se o melhor amigo.

Só mentiras, mentiras e mais mentiras, Bombas, bombas e mais bombas contra o Irã

21/8/2015, Pepe Escobar, RT

A Associated Press – com grande alarido – distribuiu matéria "exclusiva" mascarando assim o que nunca passou de escandalosa peça de propaganda, segundo a qual, pelos termos do acordo nuclear firmado no P5+1 e ratificado pela ONU, o Irã faria ele mesmo inspeções em alguns dos seus "locais sensíveis".




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Nuclear deal review meeting in Tehran August 9, 2015. © Raheb Homavandi / Reuters



Não há uma linha de informação clara na tal matéria da AP.[1] O documento crucial que a AP diz que "viu" não é sequer o acordo final assinado entre a AIEA e o Irã. AP não cita passagem alguma desse documento. O bombástico "exclusivo" aplica-se só aos parágrafos de abertura da matéria em linguagem sensacionalista:

[Aqui, na tradução de O Globo, pra economizar trabalho]

"Um acerto secreto e incomum com uma agência da ONU vai permitir que o Irã use seus próprios peritos para inspecionar um local supostamente usado para desenvolver armas nucleares. A revelação potencialmente polêmica foi revelada em um documento obtido pela AP."

O artigo nada diz de específico. "Seus próprios peritos" – nesse contexto – significa que o Irã, segundo o acordo, poderia excluir "peritos" dos Estados que tenham suas próprias agendas confrontacionais. Todo mundo sabe quem são os suspeitos de sempre.

Grécia: O que há por trás das cartas (2) Montebourg/Varoufakis, saída do euro

21/8/2015, Jacques Sapir* (entrevista a Alexandre Devecchio), Le Figaro

Ver também (Blog do Alok)
Grécia: O que há por trás das cartas (1)
Demissão de Alexis Tsipras, divisão da esquerda radical 
21/8/2015, Jacques Sapir (entrevista a Alexandre Devecchio), Le Figaro




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu





Le Figaro: O fracasso de Alexis Tsipras dá razão aos que afirmam que só há uma política possível?

Jacques Sapir: Não. A existência de um "plano B" é uma das provas de que outra política é possível. Mas é preciso compreender que essa outra política implica, num ou noutro momento, uma ruptura com o euro e com a União Europeia. O que a crise grega – que evidentemente não acabou – nos ensina é que não há outra política possível dentro do euro. Essa evidência veio bater com força contra os que, dentro da esquerda, e muito honestamente, ainda mantêm discurso 'pró-euro' e discurso pró-'austeridade' [não é "austeridade": é arrocho]. Esses dois discursos são incompatíveis.

Montebourg e Varoufakis, dois furacões, vedetes em Frangy

23/8/2015, Julien Chabrout, Le Figaro, Paris



Entreouvido na Vila Vudu

Essa não é matéria que nos interessaria, não fosse o movimento continental europeu de aproximação "cenográfica" espetacular de dois ex-ministros das Finanças de seus países, nos dois casos de governos pressupostos 'de esquerda' (França e Grécia), em reunião de socialistas franceses, discutindo o euro como desgraça da Europa. 
É notícia, sim, até na Vila Vudu que despreza oficialmente todas as 'notícias' distribuídas, quando não totalmente inventadas, pela/na mídia-empresa. 
Taí. Estamos temporariamente 'noticiosos'. De quebra, essa matéria ajuda a ler a 2a. parte da  excelente entrevista do prof. Sapir, que distribuiremos na sequência.
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Ver também
Montebourg/Varoufakis, saída do euro 
21/8/2015, Jacques Sapir (entrevista a Alexandre Devecchio), Le Figaro (Blog do Alok).
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O antigo candidato às primárias dos socialistas franceses e ex-ministro francês convidou o ex-ministro das Finanças da Grécia para que visite, no domingo, sua tradicional Fête de la Rose [Festa da Rosa (socialista)] em Frangy-en-Bresse (Saône-et-Loire).




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Há um ano, sua "Safra Especial Recuperação" [orig. Cuvée du redressement] que ele queria enviar a François Hollande virou vinagre, e provocou sua demissão do governo. Mas nem depois da saída precipitada, o furacão Arnaud Montebourg, desde então aposentado da vida política, perdeu seu ímpeto transgressor. 

Domingo, para a 43ª Festa da Rosa, organizada em Frangy-en-Bresse (Saône-et-Loire), o ex-ministro da Economia convidou outro ex-ministro das Finanças, o grego Yanis Varoufakis [Ver "A esquerda alternativa francesa disputa o passe de Yanis Varoufakis, Figaro, 21/8/2015 (NTs)]. 

domingo, 23 de agosto de 2015

Grécia: O que há por trás das cartas (1) Demissão de Alexis Tsipras, divisão da esquerda radical

21/8/2015, Jacques Sapir* (entrevista a Alexandre Devecchio), Le Figaro

Ver também (em tradução)
Grécia: O que há por trás das cartas (2)
Montebourg/Varoufakis, saída do euro 
21/8/2015, Jacques Sapir* (entrevista a Alexandre Devecchio), Le Figaro




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu







Le Figaro: O terceiro plano de ajuda à Grécia em cinco anos, 86 bilhões de euros, está assinado. Os ministros das Finanças da Eurozona aprovaram, na 4ª-feira à noite, o desbloqueio de uma primeira parcela de 26 bilhões de euros. O país conseguiu pagar, exatamente no prazo e sem dramas, 3,4 bilhões de euros ao Banco Central Europeu (BCE). É boa notícia?

Jacques Sapir: Os desembolsos que a Grécia fez (pagamento ao BCE) estavam já previstos e organizados há dias. Nada há de estranho ou surpreendente. Mas é preciso cuidado extremo com qualquer otimismo. O plano que se chama "de ajuda à Grécia", mas que essencialmente é plano para garantir a solvência da Grécia no curto prazo, em troca de condições que, sim, são realmente draconianas, permitirá que o país pague os credores. Mas não tirará o país da crise. Pior: o plano vai afundar a Grécia ainda mais fundo, na crise, organizando uma espoliação gigante dos ativos que pertencem ao governo grego, em benefício de algumas sociedades, da alemã, principalmente. 

Como fracassará a invasão EUA-saudita-EAU ao Iêmen

23/8/2015, Moon of Alabama





Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


O "caldeirão" previsto [orig. predicted cauldron], com ataque em terra contra o Iêmen, vai cobrando seu preço dos exércitos invasores, saudita e dos Emirados Árabes Unidos. A invasão entrou num beco sem saída




Notícias e vídeos dos últimos dias mostram que os combates estão ativos, não em favor dos invasores. (Veja o mapa)

Em Áden, por onde os soldados dos Emirados Árabes invadiram o país, a al-Qaeda explodiu um quartel da segurança (vídeo 1 min.) e tomou  várias partes da cidade. Militantes da Al-Qaeda na Península Árabe teriam também explodido três barcos da guarda costeira do Iêmen em Áden. Há rumores de algum tipo de cooperação entre tropas dos Emirados Árabes Unidos e al-Qaeda. Forças especiais dos Emirados Árabes Unidos libertaram um Robert Stuart Douglas em Áden. Douglas é britânico, mantido refém pela al-Qaeda desde 2014. Essa 'libertação de refém' foi parte de algum acordo?

No sul do Iêmen, um comboio de veículos dos EAU blindados contra minas terrestres (Mine Resistant Ambush Protected Vehicles, MRAP) foi emboscado numa longa estrada tortuosa entre as montanhas. Pelo menos três MRAPs foram destruídos (vídeo 7 min).

Rota: de Maidan até a guerra no Donbass

22/8/2015, Alexey Zotyev / (ru. Cassad.net; esp. em Slavyangrad)





Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


A presença de mercenários integrados nas fileiras do exército ucraniano e das unidades controladas pelo Ministério do Interior é fato perfeitamente conhecido. Neonazistas e radicais de todo tipo em busca de aventura ou dinheiro fácil inundaram o lado ucraniano logo que começou a guerra fratricida no país. Uns lutam por dinheiro, que o governo dos EUA injetou com abundância no orçamento das Forças Armadas da Ucrânia; outros lutam por uma 'ideia'. Mas que 'ideia' seria essa, numa guerra fratricida?




Também há mercenários russos. Quase imediatamente, tão logo começaram a surgir voluntários vindos da Rússia para apoiar as milícias populares da Novorrússia, outro fluxo aconteceu também, menor, mas não menos contínuo. Nacionalistas radicais e outros grupos, incluídos representantes de organizações abertamente criminosas, começaram a chegar também à Ucrânia, vindos da Rússia. De início escondiam o rosto e fugiam das câmeras, mas com o tempo compreenderam que sua 'missão' incluía dar entrevistas para divulgar os motivos pelos quais se aproximaram dos serviços de segurança da Ucrânia. 

A maior parte dos que aceitaram falar às televisões contavam que se uniram às Operações Antiterroristas [orig. Anti-Terrorist Operation, ATO] para lutar contra o "criminoso regime russo, que iniciara uma guerra fratricida na Ucrânia". Claro que nenhum jamais falou da paga generosa que recebiam da Guarda Nacional, à qual se integravam os cidadãos russos, muitos dos quais são criminosos procurados na Rússia; nem nenhum deles jamais 'revelou', pela televisão, que quem começou a guerra não foi a Rússia: foi Poroshenko. 

A ofensiva conservadora e as crises

Publicado originalmente no site Brasil de Fato em 18/08;2015










O diplomata brasileiro, Samuel Pinheiro Guimarães, em artigo especial para o Brasil de Fato, faz uma análise da crise no Brasil, o avanço de setores conservadores e o papel do governo federal; bem como aponta as saídas e desafios das forças progressistas.

por Samuel Pinheiro Guimarães*

1. A sociedade brasileira está diante de uma ofensiva conservadora que se aproveita de entrelaçadas crises na economia, na política, nas instituições do Estado, na imprensa e nos meios sociais para fazer avançar seus objetivos;

2. A suposta crise econômica ofereceu pretexto para implantar um programa neoliberal de acordo com o Consenso de Washington: privatização, abertura comercial e financeira, ajuste orçamentário, flexibilização do mercado de trabalho, redução do Estado, tudo com a aprovação do sistema financeiro nacional, por um Governo eleito pela esquerda;

3. A crise da corrupção, cujo maior evento é a Operação Lava Jato, mas também a Operação Zelotes, esta inclusive de maior dimensão, está servindo para destruir a engenharia de construção, onde se encontra o capital nacional de forma importante, com atuação internacional, e para preparar a destruição de organismos do Estado tais como a Petrobras, o BNDES, a Caixa Econômica, a Eletrobrás etc. a pretexto de que os eventos de corrupção neles investigados seriam apenas o resultado de serem estas entidades estatais;

4. Sua privatização, que corresponderia a sua desestatização/desnacionalização, eliminaria, segundo eles, a possibilidade de corrupção;

5. A crise do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal se desenvolve em várias esferas;

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Grécia: Nasceu a "Unidade Popular"!

21/8/2015, Stathis Kouvelakis, pelo Facebook, 13h34 (hor. Atenas, GMT+3) (fr., trad. Matthias De Lozzo)




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Nas primeiras horas da manhã de hoje, 25 deputados do SYRIZA deixaram o grupo parlamentar de seu partido para criar novo grupo, sob a denominação de "Unidade Popular". A maior parte desses deputados são afiliados à plataforma de esquerda, mas outros também se uniram, como Vangelis Diamantopoulos ou Rachel Makri, colaborador próximo de Zoe Kostantopoulou.

É importante evento na política grega, mas também para a esquerda radical, na Grécia e no plano internacional.

Três elementos devem ser destacados.

Primeiro, que "Unidade Popular" é a denominação da nova frente política que reagrupará 13 organizações da esquerda radical que assinaram o documento de 13 de agosto que propõe que se constitua a Frente do Não. Essa Frente é, pois, o primeiro resultado concreto de uma recomposição no seio da esquerda radical grega. É recomposição que recolhe lições dos últimos cinco anos, e, claro, da experiência do Syriza no poder e da catástrofe que daí resultou.

Segundo, que o objetivo da Frente é constituir a expressão política do Não, como se manifestou nas eleições de janeiro e depois do referendum de 5 de julho. 

As principais linhas programáticas são: ruptura com a austeridade e os Memoranda; rejeição de todas as privatizações e nacionalização, sob controle social, dos setores estratégicos da economia, a começar pelo sistema bancário; e, em termos mais amplos, um conjunto de medidas radicais, que farão pender o equilíbrio de forças a favor do trabalho e das classes populares e que abrirá caminho para a reconstrução progressista do país, de sua economia e de suas instituições.

Esses objetivos não se podem realizar sem sair da Eurozona, como a catástrofe recente já o demonstrou abundantemente, e sem romper com o conjunto das políticas institucionalizadas pela União Europeia. A Frente também lutará por um combate internacionalista unitário em torno de objetivos comuns em escala europeia e internacional, e apoiará: a saída do país, da OTAN; a ruptura dos acordos existentes entre Grécia e Israel; e a oposição radical às guerras e intervenções imperialistas.

Terceiro, o novo grupo parlamentar é agora o terceiro, em número de votos, no Parlamento Grego, maior que "Aurora Dourada", o partido neonazista. Significa que, nos próximos dias, o dirigente da Frente do Não, Panagiotis Lafazanis, terá mandato para constituir governo que durará três dias, como o determina a Constituição grega. Depois da queda do governo Tsipras, esse mandato está agora entregue ao segundo partido do Parlamento, "Nova Democracia", o principal partido de oposição de direita. Esse tempo será usado pela Unidade Popular para lançar vasto debate e mobilizar todas as forças sociais que queiram combater a austeridade o arrocho e as Memoranda, os anteriores e o recente.

O programa do partido e o conjunto de seus apoiadores entre as personalidades da esquerda grega que é lista realmente impressionante, serão divulgados na próxima semana (Atenas, 21 de agosto).

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Guia Prático do Fascismo nos EUA: Psicopatologia do liberalismo

6/8/2015, Norman Pollack,* Counterpunch




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Os Republicanos são o saco de pancadas que a Reação designou, cobrindo ampla porção da cultura, pensamento e atividade políticos nos EUA. O conteúdo é óbvio, resumido como a militarização do capitalismo avançado, que busca manter sua rota unilateral de supremacia global, o esforço fracionando-se num mundo de relações descentralizadas de poder, o que obriga os EUA a recorrer a ações ainda mais extremas, para conseguir segurar-se no lugar onde está. 

Narrativa 'midiática' e realidade da guerra dos EUA contra a Síria

14/8/2015, Moon of Alabama





Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O artigo do Washington Post "It Never Happened" [Nunca Aconteceu], sobre a Síria que registramos ontem nem de longe é o único que absolutamente não informa sobre o íntimo envolvimento dos EUA na guerra inventada contra a Síria.

Hoje, artigo no New York Times mente descaradamente:

Os EUA evitaram qualquer intervenção na guerra civil entre rebeldes e o governo do Sr. Assad, até que o grupo jihadista passou a extrair vantagens do caos para tomar territórios na Síria e no Iraque.

McClatchy, que em geral é melhor, exibe duas colunas de Hannah Allam em que analisa o envolvimento dos EUA na guerra contra a Síria. Infelizmente as colunas estão cheias de mentiras e narrativas falsas e reles propaganda do governo dos EUA, repetidas sem qualquer cuidado jornalístico de confirmação. "Governo Obama continua a prever que 'os dias de Assad estão contados'" é repetição do que funcionários do governo dos EUA andam dizendo agora sobre suas primeiras 'previsões' quanto à guerra contra a Síria. Também inclui mais mentiras descaradas:

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Guerras híbridas: abordagem adaptativa indireta à 'mudança de regime'

[Hybrid Wars: The Indirect Adaptive Approach To Regime Change]
17/8/2015, The Saker, The Vineyard of the Saker, sobre livro de Andrew Korybko



Artigos de Andrew Korybko, já traduzidos (do blog do Saker):






Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Caros amigos,

Andrew Korybko, colaborador do nosso blog do Saker, acaba de publicar seu primeiro livro. Ofereço aqui o texto de divulgação do lançamento, distribuído por nossos amigos na Oriental Review. O livro está sendo distribuído também em PDF, GRÁTIS (ing.)! Muito bom! 

The Saker



Press-release (de Oriental Review)


O jornalista e analista político de Sputnik International, Andrew Korybko, acaba de publicar seu primeiro livro: “Hybrid Wars: The Indirect Adaptive Approach To Regime Change”. O livro leva o selo da Academia Diplomática da Rússia e é distribuído com a ajuda da Universidade Russa para Amizade entre os Povos, onde Andrew trabalha como membro do Conselho do Instituto para Pesquisa e Projeção Estratégicas. Esse trabalho detalhado demonstra que as "Revoluções Coloridas" são nova modalidade de guerra concebida nos EUA, e que tudo nelas, da concepção organizacional à aplicação geopolítica, é orientado por estrategistas norte-americanos. Mas, diferente do que fizeram outros pesquisadores que trabalharam sobre o mesmo tópico, Andrew inclui em sua análise a Guerra contra a Síria e o golpe da praça EuroMaidan, para demonstrar que os EUA já incorporaram mais uma ferramenta, na sua caixa de ferramentas para 'mudança de regime'.

"Guerras híbridas" como o autor as chama, acontecem quando os EUA mesclam (i) sua Revolução Colorida tradicional e (ii) estratégias de guerra não convencional, para assim criarem um aparato unificado para provocar 'mudança de regime' nos estados que definam como seus alvos. Quando uma tentativa de provocar Revolução Colorida fracassa – como fracassou miseravelmente na Síria em 2011, o plano B implica passar para guerra não convencional, que se faz diretamente a partir da infraestrutura social e métodos de organização previamente existentes em campo. No caso da EuroMaidan, Andrew cita fontes ocidentais como a revista Newsweek, o jornal Guardian e a agência de notícias Reuters – para mostrar que, nos dias imediatamente anteriores ao golpe, o oeste da Ucrânia estava em rebelião já desencadeada e crescendo, contra o governo central de Kiev, e o cenário estava pronto para uma guerra não convencional, do tipo que se vê na Síria, mas em pleno coração da Europa. 

Não tivesse o presidente Yanukovitch deixado o poder repentinamente, os EUA teriam dado andamento ao plano no qual já trabalhavam para tomar o país por via semelhante à que usaram no cenário da Síria – e que consistiria no segundo caso de total aplicação de uma Guerra Híbrida.

A pesquisa de Andrew demonstra que foram os EUA, não a Rússia, quem inaugurou as Guerras Híbridas. E que, consideradas as evidências reunidas em seu livro, não faz sentido algum pretender que o alegado envolvimento da Rússia na crise ucraniana seria 'guerra híbrida'. 

Na verdade, os EUA estão muito à frente de qualquer outro país na prática desse novo tipo de guerra. 

Nenhum outro estado tentou até hoje alguma Revolução Colorida em outro país; tampouco se conhece outro país que tenha passado, de Revolução Colorida, para guerra não convencional, no caso de falhar sua tentativa inicial para mudar o regime existente no país-alvo. 

Apesar de ainda haver muitos que vejam essas ocorrências como espontâneas, não provocadas, Andrew reúne documentos que demonstram que as Guerras Híbridas não só são criadas pelos EUA desde o primeiro movimento, mas, também, que são especificamente usadas em áreas nas quais são mais estrategicamente vantajosas, para promover as políticas unipolares de Washington.

Andrew não disseca só a essência das Guerras Híbridas; na parte final de seu trabalho, oferece previsões do que lhe parece que deva acontecer, do ponto em que estamos, adiante. Introduz o conceito de "Arco de Cores" – uma linha contínua que se estende da Hungria ao Quirguistão, e onde Guerras Híbridas previsíveis seriam mais danosas aos interesses nacionais russos. 

É a primeira vez que o uso das Revoluções Coloridas como arma de guerra é analisado por prisma geopolítico. 

O novo paradigma que assim se oferece é absolutamente essencial para compreender a nova abordagem dos EUA para a ação conhecida como 'mudança de regime' e as características, físicas e geopolíticas, que se preveem que a ação venha a assumir nos próximos anos. 

“Hybrid Wars: The Indirect Adaptive Approach To Regime Change” pode ser retirado, editado em brochura, na Universidade para Amizade entre os Povos, em Moscou. O livro está sendo oferecido gratuitamente. Andrew pede que, por favor, os leitores que possam façam uma doação a qualquer dos grupos e indivíduos que trabalham para oferecer socorro às vítimas das Guerras Híbridas que os EUA movem contra o povo sírio e contra o povo ucraniano. Todos esperamos que essas doações ajudem a tornar mais suportável o sofrimento que os EUA infligem àquelas pessoas. Andrew recebe e-mails em korybko.e@my.mgimo.ru